Na tarde desta segunda feira, 28, duas notícias tristes: as partidas de Ken Russel, notável diretor britânico de Mulheres Apaixonadas e Delírio de Amor, o brasileiro Oscar Maron Filho, realizador de Esse é Carlos Manga! e ex-diretor da Atlântida
Antes de chegar ao cinema, Ken Russel, nascido em 1927, foi soldado do exército, dançarino e fotógrafo, profissão que o levou aos estúdios da televisão da BBC nos anos 50. Trabalhou lá de 1956 a 66 dirigindo e produzindo filmes, documentários e séries, tendo angariado a fama de inteligente e competente. Sua chegada ao cinema com o discreto O Cérebro de um Bilhão de Dólares, adaptação do romance de espionagem de Len Deighton, com Michael Caine e Karl Malden, deu a aparência apenas de que manteria a mesma média de qualidade de seus trabalhos na televisão. Mas não seria assim.
Eu costumo me apaixonar pelos filmes que me emocionam. E fiquei fascinado por Mulheres Apaixonadas (Women in Love, 1969), que chegou aqui no começo dos anos 70. Anotei o nome de Ken Russel em minha agenda e jamais o esqueci. A história, adaptada do romance homônimo de David Herbert Lawrence (1885-1930) exibia dois amigos (Alan Bates e Oliver Reed) apaixonados por duas irmãs (Glenda Jackson e Jennie Linden) e a lua de mel de um deles leva o outro casal para exposição sobre as relacionais de amor e descobertas na qual Russel escandaliza com uma luta entre os homens completamente nus. Russell revelou especial talento para a criação de imagens tanto poéticas quanto inusitadas, cujo auge da beleza ele nos brindaria com o filme seguinte, uma paixão chamada Delírio de Amor (Music Lovers, 1970), adaptação do romance de Catherine Drinker Bowen sobre o relacionamento do compositor russo Pieter Ilich Tchaikovsky (Richard Chamberlain) e sua tentativa de recusar a homossexualidade se casando com uma amiga, Antonina Milyukova, a Nina, em 1877, numa relação que duraria alguns meses porque ela era, imagine, ninfomaníaca. E Russel explora esse relacionamento inusitado com a música do próprio Tchaikovsky. Uma pintura!
Veja o trailer de Delírio de Amor.
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Em seguida, outro filme apaixonante, Os Demônios (The Devils, 1971), adaptação do romance The Devils of London, de Aldous Huxley, retratando a luta pelo poder no interior da igreja católica doséculo 17 século 17 entre um cardeal um grupo de freiras que termina em sanguinolência. Mais uma vez vemos um Russel primoroso e ousado, transformando um tema de disputa política em quase filme de horror. Mas o grande Ken Russell, revolucionário e com energia e ousada exploração da sexualidade deu lugar a filmes musicais como O Namoradinho (71), O Messias Selvagem (72) e Mahler (74), que lhe daria a Palma de Ouro em Cannes de Melhor Diretor. Russel fez ainda, naquela década, Tommy e Lisztomania (75), Valentino – o Ídolo, o Homem (77), e voltou para a TV Nos anos 80 ressurgiu com a ótima ficção científica Viagens Alucinantes (80), com William Hurt, voltou a TV e retornou 4 anos depois com Crimes de Paixão e em seguida com Gothic (86, inédito no Brasil), com Gabriel Byrne, Natasha Richardson e Julian Sands sobre a noite de arromba em que Mary Shelley escreveu o clássico Franskentein. Russell não era mais o mesmo e seus trabalhos novos trabalhos, como A Última Dança de Salomé e A Maldição da Serpente (ambos de 84), O Despertar de uma Mulher Apaixonada e, principalmente A Prostituta (91), diziam isso. Seus filmes não mais impactavam, nem escandalizavam e interessavam mais em função de suas primeiras criações. Voltou à televisão para nunca mais voltar ao cinema com longas metragens – fez ainda segmentos para Ária (87) e Armadilha do Terror (2006). Ken Russel faleceu no último domingo. Ficamos com as lembranças de seus primeiros filmes ousados, criativos e perturbadores.
O brasileiro Oscar Maron Filho faleceu neste domingo, 27, de infarto, quando participava do Festival Internacional de Cinema da Índia, onde apresentaria o documentário Mário Filho – o Criador de Multidões, sobre o jornalista esportivo Mário Filho. Oscar fizera anteriormente o documentário Esse é Carlos Manga! (2008) e fora um dos diretores da Atlântida Cinematográfica, estúdio do Grupo Cinemas Severiano Ribeiro famoso pela criação da chanchada.
Conheça o trailer de Mário Filho – o Criador das Multidões.
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